Durante meu trabalho em um hospital COVID, estive exposta a uma grande quantidade de informações e situações emocionais estressantes. Para processar e assimilar melhor minhas experiências diárias, a fotografia, como prática artística, tornou-se uma ferramenta vital durante esse período de transição. Nesta elegia fotográfica, comecei a realizar impressões em cianotipia de radiografias de tórax de pacientes infectados pela COVID-19. Essa técnica histórica de impressão fotográfica me permitiu explorar a relação entre luz e matéria, e registrar de forma poética os vestígios do vírus nos corpos das pessoas, buscando assim uma reflexão visual sobre a vida e a morte em tempos de pandemia.

Cada impressão fotográfica foi intervencionada com elementos naturais, como folhas, galhos e flores dos jardins do hospital, representando a vida e a natureza ameaçadas pelo vírus. Além disso, comecei a bordar as impressões com fios de diferentes cores, criando novas texturas e camadas que adicionavam profundidade e complexidade à imagem. Por fim, recortei as impressões de forma engenhosa e utilizei técnicas de pop-up para gerar uma sensação tridimensional e explorar as possibilidades da fotografia como objeto físico.

A impressão em cianotipia é uma reflexão artística sobre o impacto da pandemia em nossas vidas e em nossa relação com o mundo natural. Através dessas impressões, busco transmitir uma mensagem de esperança e resistência. Incorporar elementos orgânicos em minhas fotografias foi uma extensão natural do meu processo artístico. A cianotipia, nesse contexto, reforça a ideia de que o vírus é invisível a olho nu, mas seus efeitos são palpáveis e profundos. Busquei dar voz às emoções que experimentei durante meu trabalho no hospital e oferecer um olhar poético diante da adversidade.



Sobre a artista

Valentina López Zuñiga, fotógrafa, pesquisadora e professora. Minha prática surge da necessidade de transformar a imagem, de explorar sua materialidade e sua resistência ao tempo. Desenvolvi meu trabalho na interseção entre a imagem estenopeica, analógica, digital e a intervenção, utilizando técnicas históricas e alternativas, animação e bordado sobre fotografia. Gosto de explorar a transitoriedade do tempo e a fragilidade da memória por meio de longas exposições, exposições duplas e a construção de dioramas

@valentinalapez

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