Uma investigação visual sobre o trabalho doméstico no Brasil, a partir das experiências de minha avó e de tantas outras mulheres cujas histórias foram silenciadas.

Minha avó veste o uniforme de sua prima, uma trabalhadora doméstica que passou a vida servindo uma família e faleceu pouco após sua aposentadoria. No quintal da casa onde minha família vive até hoje, convido minha avó a reviver esse papel, reconstruindo memórias e refletindo sobre a dura realidade dessas trabalhadoras.

O Brasil ainda carrega cicatrizes de sua história escravocrata, refletidas no trabalho doméstico. Centenas de mulheres foram resgatadas de condições análogas à escravidão, muitas delas vivendo décadas sem salário, sem direitos, sem vida própria.

O aumento das denúncias e resgates revela uma realidade brutal, encoberta dentro das casas brasileiras. Mulheres negras, muitas vezes analfabetas ou sem acesso a informações sobre seus direitos, encontram-se presas a dinâmicas de exploração que normalizam jornadas exaustivas, isolamento social e a perda da própria identidade.

Ao reconstruir essa narrativa através da performance de minha avó, este trabalho fotográfico busca provocar uma reflexão sobre o passado e o presente do trabalho doméstico no Brasil e como essas histórias moldam nossa sociedade.

Neste trabalho reúno a história da minha família com dados que são disponibilizados no site do Ministério Público do Trabalho brasileiro criando uma narrativa visual que conta a história da luta por liberdade de uma doméstica.



Sobre o artista

João Teodoro Ribeiro é artista visual e fotógrafo formado em Fotografia Popular pelo projeto Imagens do Povo. Seu trabalho investiga memória, identidade negra e presença periférica no espaço urbano, explorando suportes como a fotografia, escultura e performance.

Realizou exposições individuais no Museu Vivo do São Bento (2019), Solar do Jambeiro (2021) e Galeria Retrato (2024). Participou de coletivas em instituições como o Museu das Favelas, Centro Cultural Hélio Oiticica, Museu Afro Brasil e Centro Cultural dos Correios.

Internacionalmente, expôs em Portugal (Centro de Estudos Ibéricos, 2023) e no Uruguai (Centro de Fotografía de Montevideo, 2025). Foi residente no Instituto Moreira Salles (2023) e integra coleções como a do Museu das Favelas (SP). 

@parnapazul

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