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O Menino Deus Negro Nasceu em Fevereiro
Jaír F. Coll
Quinamayó é uma comunidade afrocolombiana situada no sul do departamento de Valle del Cauca. Durante o comércio de escravos (século XVI-1851), seus antepassados não puderam conservar nenhuma expressão cultural. Muitas tradições ocidentais tiveram que adaptar-se como forma de expressar dignidade e resistência.
Este foi o caso do Natal, que se celebra 40 dias depois da data tradicional do nascimento de Jesús, o tempo que tardou Virgem Maria em descansar após dar a luz. Isso ocorreu em meados de fevereiro, que também era o período de descanso das pessoas escravizadas.
A festividade se manteve durante quase 200 anos. Na atualidade, a celebração dura quatro dias: no primeiro, se celebra um encontro cultural e musical entre as comunidades afrocolombianas dos departamentos de Cauca y Valle del Cauca. O segundo dia é o mais significativo, já que se realiza a processão em homenagem ao Menino Jesús Negro, na qual os meninos se fantasiam de personagens bíblicos. No terceiro dia, aconteceu um desfile para elegir a Rainha Afro da Simpatia. Por último, no quarto dia, se dança a juga, um ritmo autóctono afrocolombiano.
Esta tradição ilustra como numerosas comunidades afro reinterpretaram os símbolos católicos para expressar unidade e identidade na América Latina depois da época colonial. Isto é conhecido como sincretismo: o processo no qual dois ou mais sistemas de crenças distintos se fundem para criar um novo. Quinamayó e sua celebração são um testimonio local e universal deste fenômeno.

A ‘Estrela de Belém’, Melany Márquez, de 9 anos, posa para um retrato na rua principal de Quinamayó, em 18 de fevereiro de 2023.
A ‘Estrela de Belém’ se refere à guia celestial que conduziu os Reis Magos ao local de nascimento de Jesus. Crianças como Melany se vestem de personagens bíblicos para participar da procissão que celebra a chegada do Messias.

Um quadro da Sagrada Família Negra está pendurado em frente a uma das casas de barro mais antigas de Quinamayó em 14 de março de 2021.
Esse foi o cenário principal de um programa de televisão sobre as celebrações de Natal do povo, filmado quando ainda estavam vigentes as restrições da pandemia de COVID-19 e grandes aglomerações não eram permitidas.

(Da esquerda para a direita) Luz Nelly Balanta, de 58 anos, Mirna Rodríguez, de 58, e Luciala Balanta Peña, de 57, são algumas das mulheres que lideram a realização do Natal em Quinamayó. Na foto, aguardam sua vez para participar de uma gravação televisiva da celebração.

Sarahy Andrea Peña, de 17 anos, é uma das madrinhas do Menino Jesus Negro. Seu vestido faz referência à festa das ‘Quinceañeras’, uma tradição que ocorre em países latino-americanos como Cuba, Colômbia ou México e que celebra a entrada na vida adulta das mulheres a essa idade (15 anos).

José Eider Mancilla, sacristão da paróquia Santa Marta de Betânia, posa para um retrato enquanto segura um manual para o ritual funerário católico nos arredores de Quinamayó, em 16 de julho de 2022. “A celebração do culto ao Menino Jesus Negro é parte fundamental da nossa comunidade e vive dentro de cada um de nós. Por isso, temos a missão de preservar essa tradição para as futuras gerações”, diz Mancilla.

Brayan Alexander Carabalí toca um trombone alto durante a Festa da Praia Amarela, uma celebração do povo às margens do rio Cauca, em Quinamayó, em 7 de agosto de 2024, um feriado dedicado à família no povoado. O rio Cauca foi utilizado por seus antepassados para estabelecer sua comunidade após fugir da escravidão. A música que Carabalí interpreta é a Juga ou Fuga, um ritmo tradicional afrocolombiano que celebra a liberdade de seu povo.

Meninas que interpretam o papel dos anjos aguardam sua vez para se juntar à procissão de Natal em Quinamayó, no departamento do Vale do Cauca, Colômbia, em 18 de fevereiro de 2023.

Os três padrinhos do Menino Jesus Negro seguram uma figura do Menino Jesus Negro em uma cesta durante a procissão do segundo dia do Natal de Quinamayó, em 17 de fevereiro de 2024.

A cantaora Mónica Carabalí recita uma loa – expressão poética comum em algumas comunidades afrocolombianas – durante a procissão de Natal em Quinamayó, em 18 de fevereiro de 2023. Carabalí recita: “Como a mais jovem, peço ao meu salvador (Jesus) que nos abençoe com sua mão direita.”

Heiber Fajardo, de 53 anos, desfruta dos fogos de artifício que marcam o final do segundo dia das festas de Quinamayó, em 29 de fevereiro de 2020.
Sobre o artista
Jaír F. Coll (1997) é jornalista visual colombiano cujo trabalho explora como a cultura e a espiritualidade influnciam nas comunidades subrepresentadas. Sua fotografia, ao mesmo tempo íntima e colorista, foi premiada pelo VII POY Latam e The Everyday Projects Grant 2023, assim como exposta no PhotoVille 2022 e no Photo Vogue Festival 2022. Despois de ser reporter do jornal colombiano ‘El País’ durante três anos, Coll passou a trabalhar como fotógrafo freelance para meios internacionais como The New York Times, The Guardian, Bloomberg, Reuters, entre outros.
@jaircoll
