Arrullo del Bosque surge de um arquivo pessoal de fotografias captadas nas florestas da Bolívia, territórios que enfrentam a ameaça constante do fogo e do esquecimento. Essas imagens, impressas em cianotipia, preservam a memória de lugares que resistem a desaparecer, mesmo que as chamas consumam suas formas visíveis.

O projeto dialoga com uma realidade que atravessa a América do Sul: os incêndios que, a cada ano, devoram as florestas e corroem a conexão simbólica que mantemos com elas. Nessas peças, o ato de bordar torna-se um gesto de cuidado, uma resposta diante da fragilidade dos ecossistemas e do peso do tempo.

O bordado sashiko, tradicionalmente utilizado para reparar tecidos, traça sobre o azul profundo das imagens um mapa simbólico onde o visível e o oculto, o que foi perdido e o que resiste, se entrelaçam. Cada ponto é uma oração, um fio que une memória e paisagem, restaurando o que foi quebrado e transformando-o em um espaço de reflexão.

No verso de cada obra, os furos do papel e os fios brancos deixam um rastro silencioso, testemunho do tempo e da intenção investidos no processo. Esse gesto reforça a ideia de que reparar não é apenas uma ação material, mas uma forma de imaginar novas maneiras de habitar e cuidar do nosso mundo.



Sobre o artista

Mateo Caballero é um artista visual, fotógrafo e músico boliviano. Sua prática artística explora as conexões entre memória, comunidade e imagem por meio de processos que combinam fotografia, bordado e outras intervenções manuais. Em seus projetos, reflete seu interesse em explorar narrativas pessoais e coletivas, reconhecendo a fragilidade do mundo que habitamos e nossa capacidade de imaginar novos caminhos. Desde 2014, tem exposto individual e coletivamente na Bolívia e no exterior.

Site do artista

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